Segunda-feira, 29 de Março de 2010
SONETO
Em memória de Aurélio Cunha Bengala
Surge Janeiro frio e pardacento, Surge Março frio e pardacento. Descem da serra os lobos ao povoado; Descem das ‘cunhas’ os ‘boys’ ao povoado, Assentam-se os fantoches em São Bento Assentam-se os fantoches em S. Bento
E o Decreto da fome é publicado. E o Decreto do PEC é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento; Edita-se a novela do Orçamento; Cresce a miséria ao povo amordaçado; Cresce a miséria ao povo amordaçado, Mas os biltres do novo parlamento Mas os biltres do PS em espavento Usufruem seis contos de ordenado. Juntam aos ‘bonus’ as benesses e o ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola, E enquanto à fome o povo se estiola Certo santo pupilo de Loyola, Certo ‘boy’ ‘oculto’ e gabarola Mistura de judeu e de vilão, Mistura de mentiroso e de vilão,
Também faz o pequeno “sacrifício” Também faz o pequeno ‘sacrifício’ De trinta contos – só! – por seu ofício De dois milhões/ano - por seu ofício Receber, a bem dele... e da nação. Receber a bem dele ... e da nação.
JOSÉ RÉGIO ARGON
Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos.
Tão actual em 1969, como hoje.. depois ainda dizem que a tradição não é o que era!!!
|
|
|
|
Não sei se os senhores já repararam que já está a passar das normas o facto de se passar tanto tempo sem mais um escândalo neste país dos escândalos de corrupção. Reparem que até o chamado caso et pour cause! - «face oculta», deixou de mostrar a sua face. Já muito tempo que nos media não vem uma única palavra sobre o assunto, antes tão badalado e com lugar cativo todos os dias em toda a comunicação social.
E a razão é muito simples: os media etc. têm outros problemas mais importantes em que pensar. Por isso, adiaram a aparição de um novo escândalo, com novos personagens, mas todos da categoria do costume: gente importante, gente rica ou podre de rica, gente influente, gente bem cotada socialmente, gente de massas, gente famosa, gente mediática.
Na verdade, o orçamento do Estado, as dificuldades económicas, o aumento do desemprego em cifra que ultrapassa os 500 mil, a pobreza de uma fatia enorme da população, e, até, o caso do terramoto do Haiti ou as enxurradas destruidoras na madeira que tinham absorvido a maior parte do tempo dos noticiários das televisões não têm permitido que seja despoletado outro escândalo. Já viram o que significava de extemporâneo, de estranho, no meio destas dificuldades e acontecimentos, aparecer um novo escândalo? Seria mesmo uma espécie de fruta fora de tempo, uma notícia que não teria pernas para andar.
Mas, mesmo assim, ainda há notícias que têm o desplante de serem trazidas para a opinião pública, sem pejo, nem vergonha: refiro-me ao anúncio da candidatura de Manuel Alegre para presidente da República! Ainda falta um ano e o poeta já anda a poetar pelo país e pela comunicação social. O que significa que ele não está a ligar pevide aos problemas do país e, sobretudo, à tragédia do Haiti e da Madeira! Toda a gente anda preocupada, menos sua excelência excelentíssma!
Eu acho que isto é uma ofensa sem nome, uma não notícia que se quer fazer notícia. Onde está o decoro, a contenção, o uso do bom senso? Isto só quer dizer que este país é um país do faz de conta, mais nada. Abram os jornais e as televisões estrangeiros, vão aos países todos da CE e digam-me se há algum país onde o problema das presidenciais se ponha a esta distância. Claro que não há! Nem poderia haver!
E não haverá problemas mais urgentes em que esse alegrismo desbragado e seus alegristas desbocados pensem do que em ele querer o penacho a esta distância? Está-se mesmo a ver que é para alegrar o pagode, pagode que não tem razões para se alegrar.
Muita gente rirá, no fim, se ele vier a perder, como perdeu antes ele e o Soares que continua por aí a mandar bocas desbocadamente.. Vejam lá se o Soares se mete neste assunto, se se atreve a candidatar-se. Claro que não. Não será porque não desejasse o penacho outra vez, porque esse cargo dá nome, dá poder, dá imagem. E é isso que o Alegre pretende. Não é para governar o país.
Ele diz que quer apresentar-se como o candidato contra a economia contabilística dos números e das contabilidades. Esquece que o dinheiro é que manda, não são os políticos. E o nosso problema é, antes de mais, um problema de dinheiro, melhor, de falta dele, de números.
Reparem que até a ministra da gripe A deixou de aparecer em todos os canais e a todas as horas, como antes. Por um lado, deixou de ter assunto – a gripe deu-lhe o badagaio. Também, por outro lado, já não há pachorra para aturar esta mulher, sempre a anunciar desgraças sobre desgraças. Bem basta a tragédia do Haiti e a da madeira e, agora, o problema do PEC.
Voltando ao poeta:
Eu estou em crer que este poeta vai fazer a poesia mais feia, mais dissonante, mais desarmoniosa, mais rasca, mais prosaica, mais afónica, mais amaneirada, mais desinspirada, mais ofensiva, mais arrimada, mais desvirtuada, mais infeliz, mais desgraçada que jamais se viu, se leu e se ouviu. Porque as obrigações do seu novo potencial estado de defesa dos interesses da Nação não lhe deixarão tempo, nem inspiração para as musas que, em vão, esperarão por ele. E lá se vai o nosso poeta!
Podem ter a certeza duma coisa: ele ficará na história não como PR, mesmo se, por ironia do destino, ou por engano do fatal destino, se viesse a ganhar, do que como poeta.
Vivam os poetas! Viva a Poesia!
*
Emídio Rangel escreveu um juízo abonatório do Primeiro-Ministro, numa crónica no C. M., afirmando que «quem acusa deve ser obrigado a provar». Referia-se ao processo da Comissão de Inquérito da Assembleia da República para se apurar se o Primeiro-Ministro mentiu à Assembleia e aos portugueses, no caso da PT/TVI. Em democracia, numa verdadeira democracia, não tem cabimento uma afirmação destas a respeito da Comissão de Inquérito. Devo notar que a Comissão de Inquérito da Assembleia da República não tem que provar nada. Isso é com os tribunais. Porque apenas se limita a fazer perguntas a que os chamados a depor têm que responder, supondo-se que digam a verdade. O que não aconteceu na Comissão de Ética que, pela amostra se está vendo, vai resultar em nada. Porque todos os respondentes se fecharam em copas e confessaram a sua inocência e boa consciência que os não acusava de nada. Quer dizer: foi uma pura perda de tempo e de recursos humanos e financeiros. Aliás, das muitas Comissões de Inquérito, desde o 25 de Abril, ainda nenhuma obteve resultados positivos ou concludentes.
O mesmo vai acontecer com a Comissão de Inquérito porque, se o Primeiro-Ministro, quisesse retratar-se, já o teria feito nas muitas ocasiões em que a televisão lhe dá a oportunidade de se dirigir aos portugueses. E não obrigaria a Comissão a despender o seu tempo com uma matéria cujos resultados já se sabem, à partida. Afinal, mais uma mentira, que importância tem no cômputo das várias suspeitas com várias ‘trapalhadas’ de que Sócrates é useiro e vezeiro? Por muito menos Santana Lopes foi apeado do cargo de Primeiro-Ministro por Sampaio.
Um gesto bonito, muito democrático e profilático, é uma pessoa no lugar de chefe do executivo, dizer a verdade. Mas se disser que a consciência não o acusa de nada, se disser que não sabia de nada, creio que a maior parte dos portugueses (excluem-se, à partida, os militantes do PS e os que comem à mesa do orçamento, na dependência de Sócrates) não acreditarão.
Sócrates, agora, depois da eleição de Passos Coelho para ser o timoneiro do PSD sabe que já não está assim tão seguro, porque pode ser apeado a médio prazo (O PSD não cometerá a fraqueza de lhe fazer frente a curto prazo. Prefere que ele vá queimando em lume brando). Mesmo assim, ele, Sócrates, continua arrogante e a não dizer a verdade das contas públicas aos portugueses e a refugir-se num optimismo e sorriso enganadores.
O ZÉ PORTUGA
Quando é que se elege uma dona de casa para administrar as Finanças Públicas?
Sexta-feira, 5 de Março de 2010
Nunca, durante governo nenhum, houve tantos ‘boys’. O que são os boys? São aqueles portugueses que arranjaram um emprego á custa de cunhas, geralmente a expressão diz mais respeito aos políticos. Como sabemos, a maior parte do país que mexe vive á custa dos favores do Estado que, por sua vez, emprega por motivos políticos, milhares de pessoas, muitas delas sem qualificações que justifiquem o cargo que ocupam. O mais grave, no meio disto tudo, é a constatação de duas realidades. A primeira: eles são legião. Em segundo lugar, eles auferem ordenados milionários, obscenos que bradam aos céus. Então, nas empresas públicas do Estado, eles são aos pontapés e são escolhidos pela cor partidária e, por isso, devem toda a obediência ao «chefe».
O país debate-se com uma grave crise económica. Mas esta é só para a maior parte. Mas há uma elite que vive à grande e à francesa. Esta elite é constituída por políticos, por quadros superiores do Governo, quadros das empresas públicas e dos Bancos. Os administradores desta maralha aufere ordenados de milhões em cada ano e, no fim, ainda repartem o bolo daquilo a que eles chamam lucros, mas que a crise internacional veio descobrir que os lucros eram eles que os inflacionavam para o bolo ser maior. Uma espécie de saque. E toda a gente sabe quem são estes senhores e andam por aí à vontade, sem um remorso e sem uma acusação. Andam afadigados à procura de caça no «Face Oculta» e eles estão aí com a «face desoculta», na maior das calmas. Chegam a dar ‘show’ nas televisões e entrevistas nos jornais e, suspeitos ou denunciados pela comunicação social, todos dizem, sem excepção, que estão inocentes, que não têm nenhuma dor de consciência. Eles comportam-se assim porque sabem que não há justiça em Portugal, eles nunca serão julgados e muito menos condenados. E toda a gente sabe que assim é.
Mas, descendo mais ao pormenor e ao concreto, reparem o que está acontecendo na PT, embrenhada no caso «Face Oculta». O senhor Rui Pedro Soares, de 32 anos de idade, foi alcandorado a administrador da PT e do Taguspark. Não tem currículo para isso. Subiu à custa de se tornar um menino bonito, filiado na JS, e manteigueiro de José Sócrates a favor da imagem do qual fez uns biscates no computador que agradaram ao «chefe».
«Choca que José Sócrates não perceba que ninguém mais entende como é que se pode ganhar 2,5 milhões de euros por ano de ordenado, como administrador da PT, aos 32 anos de idade e sem currículo algum que não o de militante da JS». Este homem ganha num ano o que um técnico superior principal da Administração Pública (topo da carreira, depois de muitos estudos, exames, concursos, competentes) leva 20 (vinte) anos a ganhar.
O próprio Presidente da República precisaria de 8 (oito) anos no cargo, para juntar aquela verba. Um ‘mileurista’, isto é um empregado que ganhe mil euros por mês (há muitos licenciados que nem ganham isso), teria que viver 200 anos para ganhar tanto como esse nababo da PT.
Ele vale 8 vezes menos do que um administrador da PT e os quadros da empresa não velem, sequer, um vigésimo.
Mas se este senhor, tantos outros semelhantes, deve receber muito mais do que isso, porque acumula empregos nas administrações de outras empresas.
Teve que sair da empresa por ser suspeito de corrupto, apanhado nas malhas do processo «Face Oculta». Mas a empresa apressou-se a dizer, não fôssemos nós esquecer, que ele continua a fazer parte dos quadros da empresa. O Vara está fora do BCP e saiu por motivos semelhantes. Mas, apertados a dizerem a verdade, mentem e não a dizem, refugiando-se no segredo de justiça. Porque estes e outros da sua igualha, sabem que não vai acontecer nada, porque não há justiça neste país para os grandes, só para os pequenos. Daí o eles dizerem que estão de consciência tranquila e negarem todas as acusações.
Estes são, apenas, dois casos gritantes. Mas há muitos mais. O Governo nomeou mais de mil e trezentos assessores disto e daquilo. E os administradores das empresas públicas ganham milhões e, quando saem da empresa, recebem uma indemnização milionária (o figurão da PT recebeu 600 mil euros) e são logo nomeados administradores de outra empresa, os que não são acusados de suspeitos de corrupção. E há, até, reformados destes com reforma milionária que têm mais três empregos. Como foram reformados com meia dúzia de anos de trabalho, e são considerados «boys», depressa são nomeados como administradores de outras empresas. E, muitos, quando saem para irem para a reforma, ou para outra empresa, recebem milhões de indemnização. E tudo são dinheiros nossos, públicos!
São gastos megalómanos do governo, no seu conjunto, gasta à tripa forra com ordenados, carros de alta cilindrada, assessores, despesas de estudos a peritos e advogados, etc., etc., um sorvedouro de dinheiros públicos.
Os deputados do Reino Unido não têm lugar certo onde sentar-se, nem têm computador, (custo do equipamento de informática: 2 milhões e 110 mil euros; subvenção aos partidos representados na Assembleia da República: 13 milhões e 506 mil euros; subvenções estatais para campanhas eleitorais: 13 milhões e 798 mil euros. Diversos (???): 13 milhões e 506 mil euros. Total da despesa orçamentada da Assembleia da República: 192 milhões 450 mil 356 euros e 61 cêntimos). Não têm gabinetes, nem secretários, nem assessores, nem automóveis; não têm residência e viagens pagas, se vivem fora de Londres, - pagam pela sua casa em Londres ou nas províncias, pagam todas as suas despesas, normalmente, como qualquer trabalhador, não têm passagens de avião gratuitas, salvo quando ao serviço do Parlamento. E o seu salário equipara-se ao de um Chefe de Secção de qualquer repartição pública. O governo não alimenta escritórios de advogados, não tem «boys», nem favorece as grandes empresas de construção para obras públicas. É que eles são servidores do povo e não sanguessugas do mesmo.
Sabia que há uma deputada do PS, é deputada por Lisboa e mora em Paris? Se é deputada pela Europa, porque vem todas as semanas a Lisboa, o que custa aos contribuintes 5 mil euros por mês, viajando de avião em executiva, tudo à custa dos contribuintes? Chama-se Inês de Medeiros. E temos que estar contentes por estar a morar tão perto. Se escolhesse morar em Turquemenistão, na União Soviética, teríamos que lhe pagar muito mais. (Os deputados custam-nos, por ano, 12 milhões de euros).
Na Noruega, o país mais próspero da Europa, os ministros não andam a passear-se em carros topo de gama, andam de metro. Só têm 200 quilómetros de estrada, não comemoram as suas datas emblemáticas com milhões de euros, como nós fazemos parta comemorar os 100 anos da República cujas comemorações nos vão custar dez milhões de euros. E os jogadores da Noruega nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola. E não há um excessivo peso do Estado nem as empresas andam à coca de subsídios do Estado. Mas este país é um país rico (porque sabe poupar e gastar).
E vejam o estado a que isto chegou. E tudo isso, para quê?
Ouçamos o grito de revolta de uma senhora:
«Quero de volta a minha dignidade, a minha paz, a minha liberdade.
Quero de volta a lei e a ordem.
Quero liberdade e segurança.
Quero tirar as grades da minha janela.
Quero políticas, não quero hipócritas.
Quero sentar-me na calçada e estar de porta aberta nas noites de verão.
Quero a rectidão de carácter, a cara limpa e os olhos nos olhos.
Quero honestidade como motivo de orgulho.
Quero esperança e alegria.
Quero discordar do absurdo e da mentira em que vivemos.
Abaixo o «TER», viva o «SER!»
Artur Gonçalves
António Champalimaud deixou em testamento para a fundação com o seu nome 500 milhões de euros (100 milhões de contos) para a investigação em medicina.( investigação na área da visão e trabalhos no terreno, em países em desenvolvimento de combate à cegueira e doenças dos olhos. !ª edição em 2008.
.
Quem disse que a nossa justiça não julga? Quem disse que ela é vagarosa e ineficiente? Quem disse que ela é cega porque julga, doa a quem doer? Quem diz que só se interessa pelos casos mediáticos? O caso que se vai contar e que é um retrato da nossa justiça pronta e eficaz, é uma resposta para aqueles que só sabem criticar negativamente as nossas instituições.
O Traquinas entrou num supermercado e roubou um pacote de amêndoas, de um supermercado de Matosinhos, no dia 15 de Março de 2009. Teve pouca sorte porque uma funcionária parece que teria visto. E, talvez para mostrar serviço ao chefe, foi ela mesma, em pessoa, que meteu o petiz em tribunal. Pode lá ser deixar passar um vício tão execrando, sem o respectivo castigo da lei. Tribunal com ele!
E o menino foi julgado um ano depois. E um colectivo de três juízes, - o caso era grave, depois de todo um processo que envolveu advogado de defesa, acusação pelo ministério público, testemunhas e o levantamento de todas as circunstâncias respeitantes ao crime, como sejam, o objecto, a hora, o lugar e demais ‘démarches’ processuais que a lei ordena, seis dias debruçados sobre a sentença do julgamento, o culpado foi absolvido, por falta de prova. ‘A instrução do processo arrastava-se desde Março do ano passado, mobilizando polícias, funcionários judiciais, testemunhas e magistrados’. Mas os esforços desta máquina judiciária valeram a pena porque conseguiu reduzir os dois arguidos a um só. Se fosse considerado culpado, arriscava-se a apanhar uma pena de três a oito anos de prisão.
Se tivesse arrombado o supermercado com um jeep, atacado uma esquadra da polícia, se tivesse tentado assaltar um banco, se fosse acusado da tentativa de morte ou de rapto de alguém, poderia apanhar uma pena bem menor. Mas furtar um pacote de amêndoas, meus senhores, nunca tentem porque podem estar na prisão durante vários anos.
Estas amêndoas eram doces. Estava-se no Carnaval e o rapazelho quis antecipar a Páscoa. Foi uma garotice que lhe ia saindo cara. Estas amêndoas, por pouco, não foram amargas. E bem amargas!
Safa!