NO PAÍS DA UTOPIA
De repente, quase sem darmos por isso, eis que o Primeiro-Ministro, que tinha hora e local marcados todos os dias para aparecer na televisão em todos os canais e na imprensa escrita, dando conta das enxurradas de promessas eleitorais; primeiro-ministro que nós estávamos acostumados a ver em fotos nos jornais e nas revistas, a percorrer o país em inaugurações, desaparece de cena, sem deixar rasto.
A ministra da Saúde que todos os dias e a várias horas em todos os canais aparecia a reforçar o aumento de casos de gripe A neste país, deixou de se ver e de dar entrevistas e de responder a questões postas, sempre, pelos jornalistas encartados.
O ministro Jamé que não só dava as datas das inaugurações de obras, para daqui a cinquenta anos, - não fazia a coisa por menos, e se via a inaugurar esta ou aquela obra, mesmo que ainda não acabada, pensa-se que, pelas ausência nos meios de comunicação social, teria desaparecido de cena.
O ministro da Justiça também deixou de se ver, calcula-se que esteja a preparar alguma lei para bloquear os casos mais mediáticos que nos têm batido à porta.
O superministro da Economia, depois do escornamento de Pinho e consequente demissão que nada justificava, por ser um gesto tão banal, e das Finanças que a última coisa que disse publicamente foi que a crise tinha acabado, só faltava o nosso primeiro assinar o decreto e, depois disto, desapareceu, estando em parte incerta.
Os restantes ministros também deixaram de aparecer em público e na comunicação social escrita, ninguém sabe porquê.
O ministro da Agricultura há muitos meses que desapareceu porque, segundo se diz, não é preciso porque deixou de haver agricultura em Portugal.
Deixou de haver os conselhos de ministros das quintas-feiras e não aparece nenhum ministro que se responsabilize pela sua existência.
Mas todos os organismos públicos passaram a funcionar melhor. O atendimento melhorou a olhos vistos, os funcionários do estado passaram a ser muito atenciosos com os contribuintes e até nas finanças se nota maior agilidade nos serviços, diminuindo as listas de espera. Nos hospitais, não há médicos ausentes e os doentes são encaminhados com toda a normalidade para os serviços respectivos. Como dizia o disco, que continuamente se repetia, «tudo corre perfeitamente bem».
Ninguém sabe porque melhorou a justiça, a saúde, melhoraram os serviços de segurança, melhorou a educação e os professores esperam confiadamente que a ministra não volte a ser vista, para não estragar mais a educação. A economia só não melhorou ainda porque se está à espera do decreto do primeiro-ministro.
Toda a gente andava intrigada com as melhorias de funcionamento da máquina dó Estado e não sabiam a que atribuir a culpa.
Afinal, veio a descobrir-se através de uma fuga de informação. Toda a gente sabe que nada sabe sobre a vida particular do nosso primeiro. Não se sabe se é casado, se namora, se tem filhos e quantos. Aquele homem aparece sempre sozinho, desligado de qualquer vínculo ou referência familiar. Também queria guardar segredo sobre a longa ausência. Mas sabe-se, de fonte segura que pediu o anonimato, que foi uma das vítimas da gripe A e vive isolado. É a razão pela qual todos os serviços trabalham melhor.
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