Está ainda está bem viva na memória dos portugueses a história daquela senhora idosa que esteve fechada em casa, morta, durante nove anos. E o caso aconteceu na Rinchoa, terra onde vivo há mais de 30. Desde então, não têm faltado relatos de outros casos
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Pelo país, depois deste caso,
têm-se multiplicado as boas intenções por parte de particulares e poderes
públicos, para dar remédio, em tempo oportuno, a situações semelhantes, com
vista a evitarem-se, a todo o custo, situações como estas.
E têm aparecido, até, textos que,
pondo o dedo na ferida, comparam, em contraponto, estas situações de abandono
de idosos, a viver sós e abandonados, aos cuidados com que são tratados os
reclusos nas prisões.
Ora reparem no tratamento
diferenciado, num caso e no outro:
Que diriam, se cada idoso,
como têm os presos das cadeias, por direito, tivesse:
Um quarto reservado só para
si; assistência médica e tratamentos grátis; gente ao seu serviço 24 horas por
dia, não só para lhe servirem as refeições, como para lhe prestarem qualquer
tipo de apoio físico, ou psicológico, de que venha a precisar; ter as refeições
variadas e prontas a horas certas e servidas no seu quarto; ter quarto, casa de
banho e um pátio para passeios e exercícios, ao ar livre, rodeado por um belo
jardim; ver televisão e jogar o que quiser; ter acesso a uma biblioteca, sala
de ginástica, fisioterapia; ter ensino e assistência jurídica gratuitos,
mediante simples pedido; ter uma retrete privativa; poder receber visitas da
família e dos amigos, em lugar especial; ter todas as despesas de comida e
tratamentos médicos gratuitos; ter um corpo de seguranças permanente, dia e
noite, estando, portanto, imune a qualquer tipo de ataque, roubo, ou assalto;
ter direito a computador, rádio e televisão; ter ao seu serviço um «conselho» para
ouvir denúncias de ofensa aos seus direitos, estando abrangidos, os seus
protectores, por um código de conduta; poder estar doente com direito a ser
transferido para o hospital, onde lhe é prodigalizada, gratuitamente, toda a
sorte de remédios e cuidados clínicos, bem como toda a espécie de exames; poder
fazer parte de uma equipa de futebol ou ter acesso a outros tipos de
competição, como jogar às damas, às cartas, ao xadrez, na maior das seguranças
possível; ter direito a advogado, para defender os seus interesses e direitos
que têm de ser-lhe reconhecidos e, de modo nenhum, podem ser suprimidos ou
ofendidos; e, se se portar bem, pode, até, ver-se premiado de regalias que não
se oferecem a qualquer outro mortal, e pode, até, vir a ser notícia porque sempre
se comportou bem e nunca recalcitrou contra o bom tratamento de que sempre
beneficiou, sem o merecer; não pagar renda de casa, nem qualquer tipo de
imposto imobiliário ou outro. E mais: pode estar seguro que ali, nunca entrará
a crise, por mais grave que ela seja, porque estará sempre imune a qualquer medida
de austeridade a que estão sujeitos todos os portugueses; por outro lado, estar
em situação semelhante à de um reformado, sem a obrigatoriedade de trabalhar ou
andar à procura de emprego. Finalmente, digamos que está em paz com o fisco e
com a justiça que já fez o seu trabalho, ao atirá-lo para a situação descrita;
A forma de assistência e
tratamento nunca poderão sofrer qualquer restrição, porque os impostos de todos
os portugueses podem faltar para cobrir as necessidades dos idosos pobres e em
estado de solidão, mas nunca faltará, para esta espécie de pessoas.
Finalmente, digamos que tem
ao seu serviço uma estrutura humana e administrativa hierarquizada, constituída
por uma cadeia de pessoas exclusivamente apostadas no bom funcionamento da
instituição prisional, tendo que prestar contas do exercício da sua actividade
e podendo ser responsabilizada por qualquer falha ou anomalia que possa
ocorrer.
2. No entanto, há uma classe
de pessoas – os idosos de que falamos que, apesar de pobres e abandonados pelos
familiares e pelo Estado, está sujeito aos seguintes condicionamentos:
- ver os impostos bater-lhe à
porta e ter que suportar as restrições da crise;
- pagar do seu bolso toda a
espécie de despesas de sustento e de habitação e remédios de que venha a
precisar;
- viver sem o apoio de um
sistema de vigilância que lhe proteja a vida e os bens, durante 24 horas;
- não ser visitado pelos seus
familiares, encontrando-se em estado de solidão;
- não ter quem lhe faça a
limpeza do quarto e os cuidados de higiene de que precise;
- ter que cozinhar as suas
próprias refeições, se quiser comer uma refeição quente;
- não ter quem lhe faça as
compras;
- não ter assistência
jurídica gratuita
Bem pode queixar-se, que é o
mesmo que bater a uma parede e receber um silêncio de chumbo.
Nunca cometeu nenhum crime,
nunca foi um perigo para a sociedade, pelo contrário, cumpriu sempre as leis do
seu país, respeitou sempre os outros, trabalhou toda uma vida e, finalmente, reduzem-lhe
o salário, para pagar os custos das prisões.
É claro que toda a gente
prefere as incomodidades de um idoso, porque a liberdade que falta aos reclusos,
constitui o melhor ornamento de uma sociedade livre e democrática como é a
nossa a que nos orgulhamos de pertencer. Os presos estão em segurança, é
verdade, mas falta-lhes a liberdade.
Mas aos idosos faltam duas
coisas: carinho e ajuda.
E como não podemos modificar
as coisas, nem inverter as duas situações descritas, temos que prestar atenção
a estes casos de idosos sós e abandonados, para os protegermos e ajudarmos, o
que é um dever de todos nós.
Mas a verdade é esta, por
mais voltas que lhe dermos:
Ao idoso isolado:
Se for rico, não lhe faltarão
familiares e amigos; se é pobre, será esquecido e desprezado pela sociedade.
Que sociedade, Deus meu!
O ZÉ PORTUGA
Vejam, como a bolsa de valores
desceu nesta democracia da vergonha:
DANTES, dizia-se e
cumpria-se:
O DEVER, ACIMA DE TUDO!
AGORA diz-se e pratica-se:
ACIMA DE TUDO, DEVER!
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